Na maioria das oportunidades que eu vasculho a PubMed em busca de alguma publicação científica, o meu foco se volta apenas para um fator: Longo Prazo (Long Term). Eu quero entender como aquele material ou processo se comporta através de um regime de tempo significante.
Quantas vezes eu fiquei feliz com resultados animadores nos primeiros doze meses de um trabalho. Avaliando (por exemplo) a resistência de união de terceiros molares extraídos e restaurados, onde a clorexidina (em diferentes aspectos e concentrações) foi utilizada durante o protocolo adesivo. E quantas vezes tempos depois os resultados eram completamente diferentes e menos impressionantes. A degradação do colágeno parecia ainda vencer a batalha.
Para mim isso tende a ser ciência.Não aceitar o consenso. Ter absoluta certeza que a mediana nunca deveria ser o caminho. Criar algo memorável, mais seguro e previsível para cada um de nossos pacientes. Apresentar a estatística pura e não a estatística do ego.
Decisões fáceis, vida difícil.
Decisões difíceis, vida fácil.
Em momentos difíceis, quando precisamos pagar nossas contas e poucos tratamentos surgem no horizonte, uma sequência de eventos pode ser desencadeada:
- A recordação repetitiva do status no qual você se encontra (quase como um disco quebrado dentro do cérebro).
- Uma reflexão superficial sobre o problema.
- Um julgamento falho. Levado pelo stress, angústia e ansiedade do momento.
- A elaboração imprecisa de possíveis soluções.
- Um tomada de decisão catastrófica de curtíssimo prazo.
Imagine um cenário onde existe um descompasso no ciclo financeiro do consultório. Você precisa de recursos (vulgo dinheiro) para honrar toda a odontologia qualitativa que há anos é proporcionada para cada um dos seus pacientes.
Existe uma escassez no ar.
E você sabe disso. Dá para senti-la batendo na jugular quando você acorda as duas da manhã e não consegue pregar mais os olhos. O desconhecido gera o pior dos medos. Porque não compreender o que está por vir acaba com o raciocínio lógico do momento. Porque na ausência de luz, não existe forma alguma.
Você se torna um cego funcional. Olhos perfeitos que não enxergam nada além do problema.
É exatamente nesse momento que você pode escolher:
- O agora ou o depois.
- O curto prazo ou o longo prazo.
- O quantitativo ou o qualitativo.
- Matar qualquer diferenciação que você possua ou manter algo precioso chamado credibilidade.
Pense por camadas agora. Pense nas implicações. Pense que você acabou de escolher uma opção “tiro curto”.
Um sistema de implantes com preço reduzido, pouca evidência científica e composto de “titânio” é determinado para o protocolo superior e inferior da Dona Maria.
Você julgou a aparência da paciente e decidiu apresentar um custo de tratamento competitivo. Uma oferta irrecusável. A única observação é que você domina com maestria (há mais de vinte anos) um outro sistema de implantes: mais caro, mais evidente em publicação, mais previsível.
Excelente, a paciente aceitou os termos e vai realizar a reabilitação com você.
Uma felicidade momentânea surge no peito e rapidamente vai embora. Você reflete melhor e constata que muitas Donas Marias serão necessárias para manter o consultório. O perfil agora é replicar diversas vezes.
A única diferenciação que você possui é o “preço competitivo”. Infelizmente o limite desta competitividade é o prejuízo ou um trabalho pro bono (do solo não iremos passar).
A reabilitação da paciente não termina como o esperado. Muitos problemas de pequeno, médio e relevante porte surgiram ao longo do caminho. A confiança entre as partes foi abalada e todos querem apenas terminar esse desastre.
A Dona Maria é parente de alguns pacientes que você costuma atender. Estranho. Eles tem se ausentado nos retornos. Isso nunca aconteceu antes.
A sua reputação mudou.
Agora para manter o mínimo, você precisa se desdobrar no impossível. Aquela decisão fácil, tornou a sua vida muito difícil.
“Reputação é a soma de competência, conhecimento específico e caráter permeando o tempo (longo prazo).”
Essa é a minha validação sobre o significado da palavra reputação (não encontrada desta maneira no dicionário). Ela define o teor do seu nome e sobrenome na cabeça dos seus pacientes.
Você fortalece a sua reputação ainda no começo da caminhada.
Justamente nos momentos de solidão, desespero e dúvida. Quando você mais deseja que a dor vá embora rápido e (por um breve instante de paz) você consegue dominar a situação e escolher a jornada mais difícil.
Aquela que irá demorar talvez décadas para entregar os primeiros resultados e vai doer como uma cólica renal por mais tempo.
Aquela decisão que tornará a sua vida mais simples. Mais fácil de ser vivida. Por mais que isso não soe evidente…
Eu penso que seria algo como um sistema de trabalho que tem todas as peças do seu mecanismo ficando mais fortes com o uso e com o passar do tempo.
Como pneus de um Volvo XC90 (um dos veículos mais seguros e caros do mundo) que a cada quilómetro percorrido fica mais robusto, aumenta a sua banda de borracha e gira ainda melhor. Escolhas difíceis com foco no longo prazo tem suas mágicas e feitiçarias.
PS. Se esse texto fez algum sentido, jogue ao vento.