Eu tinha apenas dois anos de formado.
Estava sentado no chão do meu primeiro consultório. Quatro horas da tarde. A luz discretamente apagada.
Não tinha atendido ninguém o dia inteiro.
Uma sensação de vergonha, angústia e inquietude.
Uma dor no estômago que não é gastrite. Uma dor de cabeça que não é enxaqueca. Uma dor no peito que bem poderia ser um infarto.
A missão era voltar para casa, jantar com os meus pais e tentar responder com dignidade a mesma pergunta todos os dias:
“E aí Fá, atendeu alguém hoje no consultório?”
Olhando para o prato cabisbaixo, respondia que “ainda não”. Mas muito em breve eu faria a coisa mudar…
“O Fracasso anda colado com o Sucesso.”
Finalmente comecei a atender os primeiros pacientes.
O objetivo era criar a experiência mais fantástica que um recém formado poderia entregar.
Eu estudava como se não houvesse amanhã.
Queria ao menos me tornar um Ortodontista, um Reabilitador “Diferente”.
Não melhor do que ninguém. Apenas diferente.
Tipo um um pino redondo em um buraco quadrado, rsrs (Thinking a little bit Different).
No meio do sofrimento surgiram algumas paixões…
Biomimética. Adesão. Cerâmicas. Design. Pregnância. Luz. Apple.
No entanto, eu precisava suar muito mais…
Estudar práticas de Hotelaria. Liderança. Gestão. Marketing. Psicologia. Finanças.
Parecia um caminho promissor.
Eu “hackeava” o currículo de MBAs e Pós-Graduações de Faculdades como a FGV ou a FEA-USP. Comprava os livros indicados e devorava tudo que podia durante as madrugadas.
Era muito comum visitar a biblioteca da FOUSP. Xerocar vários artigos. Sair da Odontologia. E descer algumas ruas parando na biblioteca da Faculdade de Economia e Administração para ralar mais um pouco.
Eu intercalava Andrews, Leopoldino Capelozza, Pascal Magne, Urs Belser, Mauro Fradeani, Francesca Vailati com Stephen Covey, Jim Collins, Idalberto Chiavenato, Ram Charan, Steve Blank, Eric Ries, entre outros.
Horas vagas não me faltavam no momento.
Ser um excelente dentista era o mínimo que eu deveria entregar para os meus pacientes.
Dentro do “Sistema Odontologia”, o atendimento clínico era mais uma das partes fundamentais.
A conexão emocional e o relacionamento com cada paciente. O estabelecimento da metodologia e cultura de trabalho.
Todo o backoffice do consultório envolvendo a gestão do controle de estoque ao treinamento estratégico de cada membro do time consolidam o “Todo”(Whole em inglês) que eu chamo de Odontologia.
Saúde, Função e Estética + Experiência Fantástica são as propriedades do “Sistema” que eu estou inserido até o presente momento.
Eu documentava absolutamente tudo em cada uma das minhas reabilitações.
Se existia um preparo ortodôntico antes da etapa restauradora. Ali estava eu fotografando cada movimentação dentária.
Ao fazer o acompanhamento (follow-up) uma semana após as cimentações adesivas, eu tinha um “book” fotográfico completo da progressão detalhada do caso.
Eu criava uma apresentação em Keynote (PowerPoint) e apresentava para o paciente.
Mas o que eu acreditava ser o mais importante vinha a seguir.
Com o tratamento finalizado, eu agendava uma reunião no laboratório para mostrar toda a progressão do caso para o Ceramista (Técnico em Prótese Dentária – TPD) que me acompanhou.
Eu sempre tive muita sorte porque a querida Selha (hoje Ceramista Chefe do Laboratório Aliança em São Paulo) me atendia em praticamente todos os casos.
Eu abria o meu laptop. Mostrava toda a apresentação. E questionava qual era a opinião dela sobre os resultados obtidos e erros a serem corrigidos.
Era comum ela me perguntar porque eu fazia todo aquele esforço.
Para mim era óbvio.
O Ceramista era uma das partes vitais do “Sistema Odontologia - Reabilitação”.
A Selha não criava uma commoditie.
Ela criava algo único. Individual. Existia uma expressão e interpretação artística em jogo.
Na minha visão era um desrespeito ela não acessar uma visão global de cada reabilitação que participou.
Nessa mesma sala de reunião conheci o meu primeiro mentor.
Marcos Celestrino.
Observando uma das minhas apresentações, ele me perguntou:
“Mas por que você faz todo esse esforço?”
“Respeito e Valor ao trabalho de vocês.” Eu respondi.
Ele já era um nome consagrado na Odontologia Estética. Viu em mim um talento que eu não sabia existir.
Gratidão ao Marcos Celestrino.
Ele foi o primeiro a acreditar.
Ele abriu todas as portas possíveis.
Ele despertou o Professor em mim.
“It’s not time to make a change. Just relax, take it easy. You’re still young, that’s your fault. There’s so much you have to know.”— Father and Son (Cat Stevens)
Mesmo muito novo descobri uma grande vocação. Ensinar Odontologia com a humildade de um aprendiz e a voracidade de querer dar certo na vida.
Cada batalha vencida ainda está fresca na mente.
Ministrar minha primeira aula internacional na Cidade do México para uma platéia de 2.000 pessoas.
Em espanhol (Portunhol não era uma opção).
O objetivo era:
- Aprender espanhol em menos de três meses.
- Apresentar uma aula sem erros de linguagem.
- Entregar valor para cada aluno sentado à minha frente.
Deu certo.
Me senti “em casa” durante a minha apresentação.
Já de volta a São Paulo, recebo uma ligação de um professor renomado de periodontia. Ele queria o contato da minha professora de espanhol.
Mal sabia ele o Suor. O Sangue. E a Engenharia criada para todo aquele projeto dar certo, rsrs.
Muitas vitórias vieram em seguida.
Congresso Internacional da Revista Clínica.
Sociedade Brasileira de Odontologia Estética.
CIORJ
CIOSP
CIOGO
IDM Brasil
HD Experience
Estética Recife
Casamento, rsrs.
Criar junto com o Marcos o programa “Direto Ao Ponto” e conhecer cidades como Caxias do Sul e Joinville.
“Quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas aquele que vai acompanhado, com certeza vai mais longe.” Clarice Lispector
Outros mentores essenciais surgiram no meu caminho e eu sou muito grato à todos eles.
Herbert Mendes.
Alguém que acreditou com o coração aberto em cada projeto e abriu a porta para oportunidades de valor único em minha vida. Me lembro o dia que o conheci em uma almoço na casa do Marcos Celestrino. Ele abruptamente se virou para mim e perguntou: “Você está pronto, garoto? Você acha que está preparado?” Eu olhei firme e respondi que sim. Acho que ele confiou em mim.
Mauro Tosta.
Um ser humano incrível com uma habilidade cirúrgica absurda. Sempre orientou eu e o meu irmão Daniel para o caminho da Qualidade. Foi uma enorme honra escrever um capítulo no seu último livro sobre Implantodontia. O Mauro me conectou a lugares como Genebra, Zermatt, Harvard, Stutgart. Além de aprender como degustar um excelente vinho.
Não poderia esquecer da minha amada esposa Mariana. Ela me faz menos “Coxinha”, mais feliz e equilibrado. Além de ter me dado os dois maiores presentes da minha vida, a Julinha e o Dudu.
Todos os princípios que me norteiam hoje como:
- Falar sempre a Verdade.
- Ser brutalmente honesto e claro nas palavras.
- Valorizar a Meritocracia.
Foram herdados dos meus queridos pais, Carlos e Yaeca Hirata. Onde a educação rígida mas com amor, criou uma armadura resistente às intempéries desta jornada.
A fusão de todos esses fatores me ajudaram a criar a Fabio Hirata Education.
“The warrior and the artist live by the same code of necessity, which dictates that the battle must be fought anew every day. “ Pressfield, Steven.
VISÃO DE ALUNO
AOS MEUS QUERIDOS MESTRES OU SENSEIS (COMO DIZEMOS EM JAPONÊS), A MINHA SINGELA GRATIDÃO, RESPEITO E ADMIRAÇÃO.